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Prólogo

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O genocida está com uma expressão de tristeza, porque a polícia federal vai prender um de seus filhos em breve.

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O primeiro atentado no Palácio do Alvorada foi um fracasso se o fundamento da avaliação for a eliminação do presidente. Mas este não era o objetivo. Uma série de cinco milhões de análises precognitivas constatou que anos atrás o ovo gerou a serpente. Não havia como evitar uma tragédia. Difícil mesmo era estabelecer a profundidade do buraco civilizacional em que o país se encontrava. Neste ponto, os relatórios apresentavam muitas divergências entre si. A recuperação levaria quatro anos, uma década, uma vida inteira, gerações e gerações; e mesmo assim, eles jamais sairiam do buraco.

Que diferença faria assassinar o presidente?

Que diferença faria assassinar o presidente?

Dentro de um pequeno saco de lixo, havia os restos mortais de quatro ratos dilacerados: Mickey, Minnie, Jerry e Guedes. Formavam uma massa de carne com pelos vermelhos de sangue e pontinhos brancos de ossos. Não foram mortos por revirar os sacos de soja abandonados no subsolo. Menos ainda por roer a de madeira do presidente ou os livros há cinco anos abandonados da biblioteca do Alvorada. Aquele estado sugeria um assassinato violento demais, como aqueles cometidos por vingança. A responsável usou um martelo e ódio. Em seguida, bateu os animais no liquidificador.

Eram quase duas da manhã quando ela levantou a tampa da caixa d’água. Abriu a sacola e sentiu uma névoa bubônica irritar as narinas antes de arder nos pulmões. Um gosto azedo contraiu os músculos do pescoço e a ânsia se fez vômito, despejado na água cristalina. Segurou a segunda golfada de resto de jantar com cerveja, temendo que alguém a ouvisse.

Havia seis guardas, militares do Exército, em um raio de cem metros. Quatro olhavam o celular, um cochilava e o último pensava na esposa grávida de sete meses. Desta vez, eles não ouviram nada, além dos ruídos característicos da madrugada: o vento chacoalhando as folhas das árvores, as mensagens de áudio do WhatsApp, algumas tosses secas, um pastor pregando na televisão e pequenos roedores guinchando aterrorizados com a crueldade humana. Pouco tempo atrás, alguns dos seguranças a viram circular pelo Alvorada e mesmo assim não levantou suspeitas. Houve até um guarda, pai de primeira viagem, que a cumprimentou com um aceno e um sorriso.

Ela fez uma careta e prendeu a respiração. Limpou o vômito pegajoso nas calças emporcalhadas. Ainda bem que estava escuro demais para vê-lo boiando na água, como dejetos poluentes, formando uma espiral. Para ver os pedaços macerados dos ratos subirem aos borbotões, como águas-vivas, assim que foram despejados na caixa d’água. Eram pequenas armas biológicas alimentadas pelas sobras de almoços e jantares da gastronomia francesa ou italiana. Continham agentes microscópicos transmissores de leptospirose, tifo murino, salmonella e hantavirose. Uma bem-afortunada obra do acaso para alguém que se contentaria com pouco. No ápice do otimismo, uma insuficiência renal que expelisse sangue em vez de urina, ou mesmo um forte desarranjo no intestino danificado que levaria à inflamação das veias ao redor do ânus.

prenunciou Jair em uma reunião ministerial a portas fechadas em abril de 2020. Mais de um ano havia se passado e ele continuava sentado na cadeira da presidência. Os “caras”, a quem se referia, eram os governadores sanguessugas, que ameaçavam atacá-lo pelas costas e por baixo. Ele não contava, porém, que a residência oficial seria o primeiro alvo. Nem que não houvesse qualquer envolvimento dos governadores. Com todas as características de um fascista, não era de se admirar que Bolsonaro acumulara vários inimigos ao longo de mais de trinta anos na política.

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